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Cada vez se ouve falar mais em Burnout, sabe o que é? Neste artigo, a psicóloga Patrícia Madeira, esclarece algumas questões sobre este tema e iremos compreender melhor quais os sintomas, qual o seu tratamento, estratégias para reequilibrar o organismo no seu todo, as consequências e o impacto que pode ter ao nível psicológico, emocional e físico e as ajudas a que é possível recorrer nestes casos.
Atualmente ouve-se cada vez mais falar em Burnout. Temos assistido à introdução deste conceito gradualmente. Hoje em dia está mais difundido. Nem todos os manuais clínicos o integram com este mesmo nome. Ainda assim é necessário estar atento aos sintomas e perceber quando é que se está perante um estado de Burnout, mas mais importante ainda, estar alerta de forma a prevenir esta síndrome.
O que é síndrome de Burnout (SB)?
Apesar de sabermos, através de múltiplos estudos que têm sido realizados neste âmbito e que indicam várias características a ter em conta nesta questão do Burnout, é essencial que se esteja atento aos sinais para, se possível, não desenvolver esta síndrome. No entanto, caso se desenvolva, é fundamental saber o que se poderá fazer. A Síndrome de Burnout (SB) está relacionada com o contexto laboral e do impacto desse mesmo contexto na vida da pessoa, de modo, prejudicial.
O burnout é uma síndrome que está relacionada com o contexto laboral.
Através de vários estudos, é possível caracterizar a SB por exaustão emocional e sentimentos de distanciamento em relação às pessoas (despersonalização) e redução da realização pessoal, que resultam de stress crónico no local de trabalho. Esta síndrome não está necessariamente relacionada com o excesso de trabalho, mas sim pela relação com questões profissionais.
Esta síndrome não está associada apenas aos profissionais de saúde como também a outras áreas de atuação laboral que provoquem determinados impactos. Iremos compreender melhor, ao longo deste artigo, quais os sintomas da SB, qual o seu tratamento, estratégias para reequilibrar o organismo no seu todo, as consequências e o impacto que pode ter ao nível psicológico, emocional e físico e as ajudas a que é possível recorrer nestes casos.
Burnout é o mesmo que esgotamento nervoso?
Na área da Psicologia, os Psicólogos regem-se principalmente pelo DSM-V (Manual de Diagnostico e Estatística das Perturbações Mentais) que não contempla a SB como doença. No entanto, estão inseridas nesse mesmo manual diversas patologias/perturbações nas quais é possível verificar a sintomatologia presente na chamada SB. Neste sentido, encontramos outras perturbações com esses sintomas, apenas com nomes distintos.
Por outro lado, e recentemente, na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), incluíram na última revisão, a categorização da Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional.
De acordo com a CID-11, esta síndrome é caracterizada por três dimensões:
- Sensação de esgotamento ou esgotamento de energia;
- Aumento da distância mental do trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e
- Redução da eficácia profissional.
Nesta ótica, esgotamento nervoso está incluído na SB.
Quais são os sintomas do Burnout?
Os sintomas são variados, desde sintomas físicos a sintomas psicológicos e emocionais, como por exemplo:
- Dores de cabeça,
- Enxaquecas;
- Cansaço;
- Pessimismo;
- Dores musculares;
- Insónias;
- Distúrbios gastrointestinais;
- Desânimo;
- Alterações de humor;
- Alterações no apetite;
- Isolamento; Irritabilidade;
- Dificuldade de concentração;
- Lapsos de memória;
- Angústia;
- Ausências no trabalho;
- Agressividade;
- Sintomas de Ansiedade e Depressão;
- Stress constante prolongado no tempo.
Qual o tratamento?
O tratamento para o Burnout deve ser variado.
É importante iniciar psicoterapia e em alguns casos é necessário associar igualmente com a psiquiatria, através do auxílio farmacológico. De realçar questões como: alimentação, exercício físico e relaxamento devem estar presentes. Outras áreas alternativas podem também ser ferramentas complementares.
Como ultrapassar? Dicas
Para se ultrapassar o Burnout é necessário alguns recursos.
A pessoa que está a passar por Burnout deverá fazer uma reflexão acerca do que está a contribuir para o desenvolvimento do Burnout e agir nesse sentido, tanto quanto possível. É claro que este trabalho poderá ser mais fácil com a ajuda de um profissional de saúde, como um(a) Psicólogo(a) e/ou Psiquiatra.
Caso sejam possíveis mudanças reais no contexto laboral, torna-se mais fácil colmatar as consequências que daí advieram e proporcionar uma “nova vivência” laboral. É possível continuar a trabalhar na mesma empresa, desde que a SB seja ultrapassada com sucesso. Tal implica compreender e agir sobre o que provocou o desenvolvimento dessa mesma síndrome.
Conforme já frisado, é importante recorrer a ajuda profissional (área da Psicologia e/ou Psiquiatria) de forma a encontrar estratégias adequadas e funcionais face ao stress vivenciado e dotar a pessoa de ferramentas importantes de modo a suprimir desafios que vá encontrando, treinando igualmente a resiliência.
Investir nas necessidades básicas de forma a estarem satisfeitas, investir no autocuidado, nutrir-se adequadamente (em termos de alimentação e não só); prática de exercício físico (de extrema importância para a libertação de stress e ativação de outros neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar); equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional; caminhadas ao ar livre; prática de mindfulness e técnicas de relaxamento são essenciais.
Na maioria, este conjunto de práticas estão disponíveis a qualquer pessoa. Fazer o que está ao alcance da própria pessoa é ótimo, mas pode não ser o suficiente e por isso, existem profissionais de saúde que podem ajudar a ultrapassar situações como estas.
De realçar, vários estudos indicam que existem dois grandes grupos de fatores que fazem a diferença:
- fatores situacionais (características organizacionais ou inerentes ao trabalho desenvolvido) e
- fatores individuais (característicos pessoais).
A SB é resultado de stress crónico e consequência de uma rotina de trabalho, onde existem principalmente pressões excessivas, conflitos, turnos laborais, baixas recompensas emocionais e pouco reconhecimento.
Em suma, agir e produzir mudança nestas duas grandes influências é a chave para um melhor equilíbrio.
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Consequências do Burnout
O Burnout tem consequências físicas, emocionais e psicológicas, entre elas:
- diminuição da autoestima;
- perda de sentido de humor;
- despersonalização,
- insegurança;
- dores musculares e dores de cabeça;
- apatia, consequente falta de energia;
- sentimentos de culpa;
- desvalorização;
- distorção de valores, sintomas de ansiedade e de depressão, alterações da memória, cansaço extremo; problemas no sono; catastrofização, irritabilidade; em casos mais graves poderão existir pensamentos acerca da morte e risco de suicídio.
O Burnout desenvolve-se a partir de questões ligadas ao contexto laboral e extrapola para outros contextos, impactando a vida pessoal, social e familiar da pessoa.
A quem e como solicitar uma baixa médica para SB?
O nome técnico de baixa médica é: Certificado de Incapacidade Temporária para o trabalho (CIT). Esta emissão é realizada pelos médicos dos serviços competentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Quem pode passar o CIT: Centros de saúde do SNS; Serviços de Atendimento Permanente (SAP), Hospitais (exceto serviços de urgência) e Serviços de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência.
O Burnout é uma doença profissional
Em suma, como já vimos a SB é uma doença causada pela relação com as questões do âmbito profissional, mas que condiciona e tem impacto noutros contextos da vida da pessoa.
O Burnout em Portugal aumentou nos últimos anos?
Sim. Em especial no início da pandemia por covid-19, assistiu-se a um exponencial medo e stress crónico em especial nos profissionais da linha da frente, no combate à pandemia, que evoluíram de um quadro de stress para um quadro de Burnout.
Cada vez mais é importante refletir e consciencializar para a necessidade de intervenções e medidas preventivas.
Se o Burnout é uma consequência de stress crónico, isto é, stress que está presente ao longo do tempo de uma forma disfuncional, é necessário atender às variáveis que produzem e/ou podem contribuir para esta situação e averiguar as características de cada pessoa, pois sabemos que existem pessoas mais suscetíveis a desenvolverem Burnout.
Em suma, de um ponto de vista mais superficial e geral, deve-se, pois, investir e trabalhar nas características internas (da própria pessoa), já as empresas deverão fazer um trabalho em compreender os fatores internos à sua organização de modo a suprimir o nível de stress tanto quanto seja possível, que por sua vez, acomete múltiplas consequências a médio/longo prazo.