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Neste artigo, a fisioterapeuta Laira Ramos, Doutora em Uroginecologia/ Sexóloga, explica o que é a incontinência urinária e como esta pode afetar nas diferentes fases da vida da mulher.
O que é a incontinência urinária?
Segundo a Sociedade Internacional de Continência, a incontinência urinária é qualquer perda involuntária de urina, desde 2002 sem a necessidade de exames objetivos para o seu diagnóstico.
Estes são os 3 tipos mais comuns dessa patologia:
- Incontinência urinária de esforço é a perda involuntária de urina aos esforços, tosse ou espirro.
- Incontinência urinária de urgência é a perda involuntária de urina precedida por uma urgência urinária.
- Incontinência urinária mista é a perda involuntária de urina associada ao esforço e a urgência.
Causas/consequências da incontinência urinária
A manutenção da continência urinária é complexa e envolve vários fatores: nervosos, musculares, fasciais e estruturais, sendo a contração dos músculos do pavimento pélvico um importante fator na manutenção da continência. As mulheres continentes têm maior força de contração desses músculos.
O tônus do esfíncter uretral externo é suficiente para manter a continência urinária no repouso ou com um pequeno aumento da pressão intra-abdominal, mas um grande aumento da pressão intra-abdominal requer a contração ativa e potente dos músculos.
A incontinência urinária tem grande impacto económico na vida dos doentes afetando negativamente a qualidade de vida, causando isolamento social, menor produtividade no trabalho, diminuindo a concentração, autoconfiança e performance, tem impacto negativo na vida sexual e leva ao aumento de idosos vivendo em lares ou asilos.
Perdas de urina, como afeta a vida da mulher
A incontinência urinária é uma doença crónica e limitante que afeta homens e mulheres, sendo mais comum nas mulheres. Estima-se que acometa cerca de 400 milhões de pessoas no mundo, e é considerada um problema de saúde pública. Face aos diferentes desenhos dos estudos e formas de diagnóstico, é muito difícil determinar sua prevalência na população, que varia de 5% a 69%.
Estes pacientes sofrem com sintomas que os deixam inconfortáveis, embaraçados e socialmente afastados; sua autoestima e autoimagem ficam profundamente abalados. Eles passam menos tempo caminhando, trabalhando, convivendo com a família e amigos; despendem grande parte do seu tempo com cuidados de higiene levando a perda da independência e autocontrole.
Incontinência urinária no início da gravidez, no pós-parto e na menopausa
Existem 3 fases na vida da mulher onde a incontinência urinária pode acontecer de forma mais intensa: na gravidez, no pós-parto e na menopausa.
As alterações hormonais e biomecânicas da gravidez têm um impacto negativo na função dos músculos do pavimento pélvico fazendo quem que muitas mulheres tenham experiências negativas de perdas de urina no último trimestre. Algumas mulheres começam a sentir as perdas de urina depois do parto, mesmo as que tiveram um parto cesariana, o que mostra que são as alterações da gravidez uma das causas dessa patologia e não apenas o parto vaginal.
Durante a menopausa a diminuição da produção do estrógeno tem um impacto negativo no colagénio corporal e na ação muscular, isso também pode ser sentido no pavimento pélvico e as mulheres relatam mais dificuldade em reter a urina e a sensação de terem a vagina seca.
Mesmo tendo um grande impacto negativo na qualidade de vida desses pacientes apenas um quarto procura um profissional de saúde, e menos de 50% dos que procuram recebem algum tipo de tratamento para estes sintomas da menopausa. Infelizmente é muito comum os pacientes esperarem por anos até relatarem aos seus médicos as disfunções do pavimento pélvico.
Exercícios para a incontinência urinária feminina com fisioterapia
O tratamento conservador deve ser indicado como primeira opção de tratamento para a incontinência urinária. Os tratamentos conservadores não envolvem cirurgias ou medicamentos, sendo um deles a fisioterapia. Estes tratamentos são feitos através de exercícios dos músculos do pavimento pélvico. Independente se a causa da incontinência é a gravidez, a via de parto ou a menopausa o tratamento da fisioterapia sempre deve visar uma reabilitação global dos músculos do pavimento pélvico que sempre devem ser orientados somente depois de uma avaliação.
Para que se obtenha resultados satisfatórios é necessário que o tratamento seja supervisionado por um fisioterapeuta uroginecológico, e os pacientes devem estar motivados e integrados ao tratamento. Estes exercícios podem não ter resultados se as pacientes não estiverem sendo corretamente orientadas.
Não há um protocolo padrão ouro para estes tratamentos, sendo bastante variadas as técnicas utilizadas e a intensidade dos exercícios, o que dificulta a avaliação da sua eficácia e normalização dos resultados.
Esta falta de uniformidade motivou a autora a desenvolver o protocolo Reabilitação Perineal Ativa, que pode ser utilizado nas mulheres e nos homens. Este hoje é o único protocolo válido cientificamente que visa a reabilitação global dos músculos do pavimento pélvico e não o tratamento isolado de patologias.
O protocolo é composto por 14 sessões e respeita as 3 fases da reabilitação: as sessões de 1 a 4 são para o ensino correto da contração e do relaxamento dos músculos do pavimento pélvico; as sessões de 5 a 8 são para o treino da agilidade ou coordenação muscular; as sessões de 9 a 14 são para a promoção da hipertrofia muscular.
Todas as sessões são feitas em atendimentos individuais e os pacientes utilizam sonda intracavitária (via vaginal ou via anal) composta por um sistema de elétrodos utilizados para a realização do biofeedback por eletromiografia e para a realização da eletroestimulação.
Cada sessão dura entre 45 e 55 minutos, sendo compostas por 10 minutos de eletroestimulação para fibras musculares rápidas, seguido de uma sequência de exercícios de cinesioterapia (exercícios da MPP) com biofeedback para fibras musculares rápidas; depois são feitos 15 minutos de eletroestimulação para fibras musculares lentas, seguidos de uma sequência de exercícios de cinesioterapia (exercícios da MPP) com biofeedback para fibras musculares lentas.
Ao fim de cada sessão os pacientes são orientados sobre os exercícios que devem fazer em casa, as mulheres são orientadas sobre o uso dos cones vaginais depois da sessão 9.
Aproveite e veja também este vídeo, com exercícios para a perda de urina:
confirmo, a mim me fez muito bem a fisioterapia, tinha muitas perdas de urina e agora não tenho tantas