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Talvez já tenha ouvido falar das palavras microbioma e microbiota intestinal, mas certamente ainda não entendeu bem estes termos. A farmacêutica hospitalar, Bárbara Marrucho, explica neste artigo o que são e qual a sua importância no nosso intestino.
Microbioma e Microbiota intestinal, o que são?
Estes termos são relativamente recentes até no meio científico e só na última década é que esta área ganhou a relevância que merece. Por isso, é normal ainda não saber bem o que isto é ou ter apenas uma noção superficial.
O microbioma é o conjunto de micro-organismos como bactérias, fungos, vírus, parasitas, arqueas e respetivos genes, que habitam no nosso corpo. Ao conjunto de micro-organismos que habitam especificamente no intestino damos o nome de microbiota intestinal.
Para que servem as bactérias intestinais?
É estranho pensar que temos 100 triliões de micro-organismos no nosso corpo que correspondem a 90% da nossa constituição e apenas 10% são células humanas. Vivemos num mundo em que acreditamos que as bactérias apenas causam doenças no ser humano, muito graças aos estudos de Louis Pasteur.
Mas será que esta teoria é mesmo verdade?
A verdade é que cada vez mais estudos comprovam que as bactérias, controlam de forma silenciosa a nossa saúde e o nosso bem-estar. Grande parte destas encontram-se no nosso intestino e vivem lá de forma harmoniosa e equilibrada, onde cada uma tem a sua função.
Como é o microbioma humano?
Como habitantes do intestino, é normal que estejam envolvidos na digestão e que nos ajudem a digerir toda a comida que entra pela nossa boca.
Mas será que esta é a sua única função?
Hoje sabemos que estão envolvidos em inúmeras funções e que a microbiota intestinal é responsável por:
- Modular a nossa imunidade, uma vez que 70-80% do sistema imunitário é alojado no nosso intestino;
- Controlar as nossas emoções, uma vez que 90% da serotonina (hormona da felicidade) é produzida no nosso intestino;
- Regular as nossas hormonas, nomeadamente, as que regulam a fome e a saciedade;
- Impactar com o nosso peso corporal;
- Impactar com o efeito dos medicamentos no nosso organismo;
- Prevenir ou promover inúmeras doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares, cancro;
- Ajuda a controlar a saúde do cérebro;
- Produzir vitaminas, enzimas e aminoácidos;
- Regular a absorção de nutrientes;
- Regular mecanismos inflamatórios.
O que afeta a microbiota intestinal?
A composição da microbiota intestinal é única, como se fosse uma impressão digital, o que significa que é diferente para todos os seres humanos. Isto acontece porque ela é facilmente alterada por fatores externos e internos, nomeadamente:
- Nascimento (parto normal ou cesariana);
- Amamentação;
- Alimentação;
- Medicamentos (antibióticos, AINE’s, inibidores da bomba de protões);
- Idade;
- Hormonas;
- Genética
- Anatomia do trato gastrointestinal;
- Sedentarismo;
- Toxinas;
- Stress;
- Distúrbios do sono.
Sintomas de um desequilíbrio na microbiota intestinal ou de uma flora intestinal alterada
Existem imensos tipos de bactérias e outros seres vivos no nosso intestino e a maioria beneficia a nossa saúde e têm a sua função no nosso organismo. No entanto, quando existe o crescimento excessivo de algum tipo específico, pode ocorrer o desequilíbrio de toda a microbiota intestinal, que denominamos de disbiose intestinal. Quando isto acontece, vários sintomas podem surgir, nomeadamente:
- Problemas gastrointestinais (obstipação, diarreia, refluxo ácido, náuseas, dores abdominais, inchaço);
- Cansaço crónico;
- Intolerâncias alimentares;
- Dores nas articulações;
- Inflamação;
- Problemas de pele (acne, psoríase, urticária);
- Problemas de concentração;
- Ansiedade e depressão;
- Candidíase;
- Halitose;
- Insónias;
- Má absorção de nutrientes.
Se a disbiose se mantiver durante muito tempo, isto pode originar um conjunto de doenças crónicas, como diabetes, alergias, obesidade, cancro colorretal, doença de Chron, colite ulcerosa.
Como proteger a microbiota intestinal?
Felizmente, há esperança! A nossa microbiota muda rapidamente se alterarmos o nosso estilo de vida e alimentação. Desta forma, temos o poder de controlar a nossa saúde e o nosso bem-estar. Algumas medidas que favorecem a nossa microbiota e devolvem a harmonia ao ecossistema que temos dentro de nós são:
- Introduzir fibra na alimentação: a fibra serve de alimento para as nossas bactérias benéficas, por isso, devemos introduzir legumes, fruta, cereais integrais e leguminosas;
- Diversificar os alimentos: isto pode originar uma diversidade de microorganismos, que são um bom indicador de uma boa saúde intestinal;
- Introduzir cereais integrais: estes contêm mais fibra do que os cereais refinados e, por isso, beneficiam a microbiota intestinal;
- Incluir alimentos fermentados: os alimentos fermentados como o kefir, o chucrute, o miso, o tempeh e o iogurte natural contêm bactérias benéficas que promovem a nossa saúde;
- Incluir alimentos prebióticos: os prebióticos são fibra que estimula o crescimento e atividade das bactérias benéficas, uma vez que servem de alimento para estas. Estes estão naturalmente presentes em alimentos como bananas verdes, maçãs, espargos, alho, alho francês, cebola, aveia;
- Introduzir gorduras saudáveis: são ricas em ómega 3 e diminuem a inflamação intestinal. Inclui frutos secos, sementes, abacate, azeite extravirgem;
- Evitar adoçantes artificiais: estudos indicam que provocar intolerância à glucose através da indução de alterações composicionais e funcionais da microbiota;
- Limitar a utilização de medicamentos: como antibióticos e anti-inflamatórios não esteróides;
- Reduzir o consumo de açúcar: pode promover o crescimento de bactérias e fungos patogénicos, nomeadamente, a candida albicans;
- Hidratação: a água é fundamental para desintoxicar o organismo e para promover um bolo fecal saudável;
- Fazer exercício físico: estudos indicam que melhora a microbiota intestinal e promove os movimentos intestinais;
- Utilizar estratégias de relaxamento: o stress parece piorar a microbiota intestinal. Estas estratégias incluem yoga, meditação, massagens, exercícios de respiração;
- Dormir 7-8 horas por noite: o corpo precisa de descanso para limpar as toxinas e promover a autofagia. Distúrbios do sono podem afetar a nossa microbiota intestinal.
Utilizando estas estratégias, há futuro para a recuperação do nosso intestino. Se tratarmos bem as bactérias que que vivem dentro de nós, elas agradecem promovendo a nossa saúde e bem-estar.
Um excelente trabalho, obrigada.
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