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As nossas hormonas e as nossas emoções estão intimamente conectadas e influenciam-se mutuamente. Sendo a SOP uma desregulação hormonal (insulina, androgénios), é expectável que a regulação emocional seja também diretamente afetada.
Como é que a SOP pode afetar a saúde mental?
As mulheres com SOP podem ter oscilações repentinas de humor, agressividade, irritabilidade, tristeza – isto acontece de forma involuntária, não é uma escolha nem há controlo sobre isto, mas é possível gerir a sua saúde mental.
Se estas oscilações não forem geridas adequadamente, a desregulação emocional pode causar sofrimento e evoluir para a doença mental.
Que doenças mentais podem surgir?
Depressão, ansiedade e doença bipolar – estas são as três condições mais frequentes.
Podem também desenvolver distúrbios alimentares, vergonha, auto-criticismo e traços obsessivo-compulsivos – na medida em que a preocupação com a imagem corporal e a necessidade de controlo do peso e alimentação é muito importante para o manejo da síndrome.
Convém relembrar que a SOP causa sintomas muito angustiantes e com grande impacto na vida da mulher, como o hiperandrogenismo (hirsutismo, acne, queda de cabelo, manchas na pele), irregularidades menstruais, obesidade e infertilidade.
Qualquer uma destas condições sozinha já é difícil de lidar, é um “cocktail” complexo e que exige uma abordagem clínica consistente – sobretudo numa fase de vida em que habitualmente a mulher dá muito valor à sua imagem corporal, quer encontrar um/uma parceiro/a ou ter filhos.
É importante distinguirmos também entre o sofrimento primário causado pelos sintomas que a SOP provoca por si só, e o sofrimento que surge na sequência da nossa luta contra os sintomas da SOP, e à não aceitação da situação (o sofrimento secundário) – é aqui que o psicólogo pode ajudar para que o sofrimento secundário não piore o primário, que é inevitável.
É frequente existirem problemas psicológicos em mulheres com SOP?
Os estudos confirmam que cerca de 42% das mulheres que têm SOP sofrem de ansiedade e 37% de depressão, e que têm até 3 vezes mais probabilidades de serem diagnosticadas com depressão e ansiedade, do que a população normal, e 5 vezes mais probabilidade de terem distúrbios alimentares.
Os seus filhos estão em risco aumentado de diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Por isso, a avaliação e intervenção na saúde mental deve ser considerada para estas pacientes e os seus filhos.
Em que medida é que um psicólogo pode ajudar uma mulher com SOP?
É fundamental realizar psicoeducação para a ansiedade e depressão, fazer trabalho de auto-conhecimento, auto-cuidado e treino de regulação emocional e de auto-compaixão, ajudar a criar hábitos de higiene do sono, reduzir o stress crónico, trabalhar a relação com o corpo e a comida… A abordagem depende sempre da fase de vida em que a mulher se encontra, dos sintomas de SOP que apresenta e das suas lutas internas em particular.
Sabemos que a gestão dos sintomas de SOP passa pela mudança profunda de estilo de vida, adotando hábitos mais saudáveis, como a prática de exercício físico – isto parece simples mas pode ser bastante difícil de implementar e manter, e por isso o psicólogo é fundamental para a motivação. O exercício físico não traz apenas benefícios físicos, como também benefícios emocionais e psicológicos.
A adoção de uma alimentação saudável e de suplementos também é importante, e a perda de peso pode ser mais difícil para pessoas com SOP, então é necessário ajudar a mulher a desenvolver uma relação de auto-compaixão, auto-empatia, a ser compreensiva e tolerante consigo.
E qual o impacto da Infertilidade numa mulher com SOP?
Muitas vezes, as mulheres descobrem a SOP muito jovens e o receio da infertilidade no futuro atormenta-as no presente.
A probabilidade de engravidarem é elevada, se forem bem acompanhadas, mas podem também surgir problemas durante a gravidez e nos seus filhos. Por isto tudo, é natural que surja muita ansiedade em torno da maternidade, culpa, inadequação, insegurança, dificuldades em lidar com o corpo e a sua feminilidade.
É importante dotar a mulher de auto-confiança e trabalhar no sentido de que ela não é definida pela sua SOP, e que tem o poder de manejar a sua própria SOP – para isso precisa de se tornar especialista em si mesma (auto-conhecimento) e na sua SOP, procurando conhecê-la com curiosidade, acolhendo-a e fazendo as pazes com ela.
<<Aproveite e leia também este artigo: “É possível engravidar com SOP?”>>
É possível então viver com SOP e ter saúde mental?
Claro que sim, a saúde mental não é a ausência de problemas ou felicidade constante. É, entre outras coisas, termos uma atitude consciente sobre a nossa mente e o nosso corpo, flexibilizarmo-nos, sermos empáticos e aceitarmos o sofrimento da doença e não nos resignarmos a ele.
Esta é uma condição sem cura e que irá acompanhar a mulher para toda a vida, é comum a mente mal diagnosticada e mal tratada, por isso quanto mais cedo intervirmos, melhor qualidade de vida e bem-estar psicológico a mulher terá.
Desta forma, a mulher também estará mais preparada para gerir psicologicamente a sua SOP e não ser controlada por ela. Não é suposto passarem por algo tão complexo e lidarem com tudo sozinhas. Procurem ajuda!
Aproveite e veja também, o direto realizado no instagram com a Psicóloga Margarida Fonseca.
Descobri a pouco tempo que tinha SOP e sem dúvida que é algo que nos afeta fisicamente e emocionalmente…